sexta-feira, 27 de março de 2015






Igor Clayton Cardoso: O fim da classe média e o surgimento da ralé


Esquenta os tambores que vem aí a nova ralé brasileira!





Igor Clayton Cardoso
Igor Clayton Cardoso
Está estampada a manchete na capa do jornal: “Renda tem maior queda em 10 anos”. O rendimento médio real habitual do trabalhador ficou em R$ 2.163,20, em fevereiro deste ano, uma queda de 0,5% em relação a fevereiro do ano passado. Essa é a primeira queda anual do rendimento desde outubro de 2011 (-0,3%) e a maior queda desde maio de 2005 (-0,7%). Os dados são da Pesquisa Mensal de Emprego (PME).
“Há muito tempo não há uma retração do rendimento. Nesses dois últimos meses, a gente vê o aumento do indicador da inflação. Houve de fato uma retração em função da inflação, para rendimentos em termos reais”, disse a pesquisadora do IBGE, Adriana Beringuy.
A queda também pode ser explicada por redução dos postos de trabalho em setores que pagam mais, como a indústria, que teve recuo de 7,1% no contingente de desocupados entre fevereiro deste ano e o mesmo período do ano passado. O rendimento também teve queda, de 1,4%, na comparação com o mês de janeiro.
O que estamos vendo é o começo do declínio da tal “nova classe média”, que o governo anunciou com muito alarde – e tortura estatística. O desemprego está aumentando, a economia deve se retrair esse ano em 1% ou mais, e a inflação provavelmente terminará 2015 acima de 8%. Será que podemos afirmar que se trata do fim da classe média e do surgimento da “ralé”?
O leitor acha que sou insensível por usar esse termo? Talvez. Mas calma que explico. Não é exatamente um termo meu. Há um pesquisador que divide o país exatamente nessas “classes”: a ralé, os batalhadores e os ricos. É o autor de um estudo sobre a tal “ralé brasileira” e como ela vive. Pensa o leitor que se trata de algum “neoliberal” qualquer? Nada disso. Seu nome é Jessé Souza, e não tem nada de liberal.
Nunca ouviu falar? Pois é, mas os petistas sim, a presidente Dilma sim. Afinal, o homem se tornou nada menos do que o novo presidente do Ipea, aquele órgão de pesquisa aplicada que outrora gozou de grande respeito, e que desde a chegada do PT no poder virou sinônimo de piada de mau gosto, de “pesquisas” com claro viés ideológico e partidário.
Logo na epígrafe deste trabalho, o autor cita uma frase de Celso Furtado, guru das esquerdas, em uma entrevista para a “Caros Amigos”, aquela revista que de tão caricata serve apenas para rir. A frase: “A doença grave do Brasil é social, não econômica”. E é com base nesse diagnóstico que tantos “economistas” (ou antropólogos e sociólogos) ignoram tudo aquilo que faria a economia de fato crescer e, com isso, reduzir a miséria social. Basta “vontade política” para distribuir a riqueza e tudo ficará bem, na cabeça dessa gente…
Na introdução, Jessé já mostra a que veio: “Na verdade, a força do liberalismo economicista, hoje dominante entre nós, só se tornou possível pela construção de uma falsa oposição entre mercado como reino paradisíaco de todas as virtudes e o Estado identificado com a corrupção e o privilégio”. Liberalismo “economicista” dominante entre nós? Em que mundo ele vive? Mercado como “reino paradisíaco”, no Brasil? Vemos na largada que a honestidade intelectual não é seu forte, e que o intuito é apenas vender sua ideologia estatólatra, infelizmente já bastante disseminada no país.
Mas não é esse meu ponto principal aqui. Jessé chama o andar de baixo de “ralé”, e se coloca como uma espécie de porta-voz desses desvalidos. Só de usar esse termo, um economista liberal já seria tachado dos mais chulos adjetivos. Ironia das ironias, o sujeito acusa o outro lado de “simplista”, mas divide a sociedade em ralé, batalhadores e ricos. Em qual “classe” está o leitor?
Nessa entrevista ao ator Lázaro Ramos, Jessé deixa claro que essa coisa de mérito não existe, que o resultado é fruto da classe de largada. Seria muito perguntar como, dentro das mesmas famílias, há resultados tão distintos? Ou então como, especialmente nos países mais liberais, tanta gente sai da pobreza e chega ao sucesso? Detalhe, detalhe. Marxistas, disfarçados ou não, traem seu desejo de atacar os ricos, mascarando-o de “busca pela justiça social”. Jessé quer ajudar os “invisíveis”, e para isso precisa tirar dos “ricos”.
Pior: para Jessé, a corrupção não tem nada a ver com excesso de estado, mas sim com desregulamentação. Ou seja, se aumentarmos a burocracia e o poder estatal, teremos menos corrupção! Vai ver por isso a União Soviética era tão pouco corrupta… Vai ver por isso o petrolão ocorreu na Vale privatizada, e não na Petrobras estatal… Ops!
A escolha do presidente do Ipea é do ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos. No caso, Mangabeira Unger, aquele que cuspia no governo do PT como um dos mais corruptos e logo depois embarcou no time sem mais nem menos, mostrando como é capaz de mudar de ideia da noite para o dia, graças, claro, a fortes argumentos persuasivos. Não dá para cobrar coerência dessa turma.
Tudo que escrevi acima seria desnecessário, bastando revelar ao leitor uma só informação: o Brasil 171 adorou a escolha! Acha que Mangabeira “marcou um golaço”. Por aí o leitor já pode ver o que nos espera. Será que teremos saudades de Marcio Pochmann? Não custa lembrar que foi em sua gestão que a decadência do Ipea começou, e logo depois o economista mostrou sua verdadeira cor, ao se candidatar como político pelo PT.
Infelizmente, o estrago institucional causado pela passagem do PT pelo poder – espera-se que perto do fim – é enorme e levará muito tempo até ser revertido. O PT aparelhou toda a máquina estatal com seus pelegos e militantes, avançou sobre os diferentes órgãos como se fossem braços partidários, destruiu a credibilidade de inúmeras entidades importantes. O critério de escolha nunca é técnico, mas sempre ideológico.
E, no processo, inventou uma “nova classe média”, que agora poderá ser estudada e analisada com esmero pelo Ipea, como a nova ralé brasileira!
Rodrigo Constantino










Igor Clayton Cardoso: Estagnação não tira do Brasil posto de 7ª economia

Brasil tem desempenho econômico pífio, mas mantém posição no ranking mundial





Igor Clayton Cardoso
Igor Clayton Cardoso

O Produto Interno Bruto (PIB) divulgado nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que a economia brasileira cresceu apenas 0,1% em 2014, a 5,52 trilhões de reais em 2014, o equivalente a 2,66 trilhões de dólares, considerando a cotação de fechamento de 2014. Contudo, o mau desempenho ainda não tirou do país o posto de sétima maior economia do mundo. A Rússia, que em 2013 sinalizava um avanço consistente capaz de fazer frente ao Brasil, agora apresenta retração. Envolvido nos conflitos na Ucrânia e alvo de sanções econômicas dos Estados Unidos e da Europa, o país europeu deve ver sua riqueza recuar para 1,85 trilhão de dólares, segundo projeções da consultoria Economist Intelligence Unit (EIU). Os números oficiais de 2014 ainda não foram divulgados pelo governo russo.
Independentemente do desempenho russo, a tendência é de que o Brasil perca espaço nos próximos anos no ranking. Além do fraco resultado em 2014, as perspectivas de analistas são de que 2015 e 2016 também sejam anos difíceis. O ultimo levantamento Focus prevê uma retração de 0,83%% este ano e leve crescimento de 1,2% no ano que vem.
A Índia, outro emergente que desperta a atenção de investidores, deve em breve ultrapassar o Brasil. Um estudo da A.T. Kearney com base em dados do Banco Mundial prevê que a economia indiana ultrapasse a brasileira em 2019 – e não espantaria se a ultrapassagem fosse antes, devido à aceleração recente do país. François Santos, sócio da consultoria, explica que a Índia está em curva ascendente porque, entre outros fatores, seu primeiro-ministro atual, Narendra Modi, foi governante de um Estado que gerou muitos investimentos em produtividade, o que acabou repercutindo na confiança dos investidores e, consequentemente, na entrada de mais recursos no país. “Seu governo é pró-investimento e crescimento”, diz.
Já no caso do Brasil, não bastassem todas as mudanças na política econômica implementadas pelo governo Dilma, há ainda o impacto negativo dos preços das commodities no mercado externo. “O governo resolveu trocar a política macroeconômica, que estava dando certo, por uma nova matriz, com o intuito de estimular a demanda para gerar crescimento”, explica Alessandra Ribeiro, da Tendências. Segundo a economista, ao estimular o consumo, o governo esperava que viessem mais investimentos. Mas se esqueceu de combinar o plano com investidores. “Isso não funcionou porque havia demanda, mas não oferta”, conta. E estimular a demanda sem oferta gera desequilíbrios, como alta da inflação e déficit em transações correntes. Por outro lado, as exportações de commodities que costumavam segurar a balança não puderam desempenhar papel de salvadoras da pátria justamente porque os preços mudaram de patamar.
Conforme o IBGE divulgou nesta sexta-feira, a taxa de investimento do Brasil em 2014 foi de 19,7% do PIB, abaixo do observado em 2013 (20,5%). Por sua vez, a taxa de poupança foi de 15,8% em 2014, ante 17,0% em 2013.
O professor de Economia do Insper, José Luís Mascolo, acredita que 2015 será um ano de correção e que, na melhor das hipóteses, a economia não crescerá por causa dos ajustes que devem ser implementados pelo ministro da Fazenda Joaquim Levy. “Este ano deve ser um ano de correção de rumo se deixarem Levy trabalhar”, diz. Mascolo explica que, com a elevação dos juros, o consumo tende a cair. Além disso, quando há o ajuste fiscal sendo implementado concomitantemente, a economia titubeia. Contudo, como o objetivo das medidas é o controle das contas públicas, o economista avalia que a tendência é que o mercado retome a confiança.
Ainda há esperança - Economistas ouvidos pelo site de VEJA avaliam que o Brasil enfrenta hoje o mesmo desafio que a Índia vivenciou dois anos atrás: reconquistar a credibilidade perante os agentes econômicos. Os analistas frisam que as realidades dos dois países são distintas, quase incomparáveis, pelo fato de o Brasil estar à frente tanto no desenvolvimento econômico quanto institucional. Contudo, as críticas que foram feitas aos dois países, culminando em ameaças de perda do grau de investimento, e as estratégias traçadas por ambos para reverter a situação se assemelham. A diferença, contudo, é que após meses de um novo governo, a Índia está prestes a crescer no mesmo patamar da China: 7,5%. “Fazer um ajuste fiscal com crescimento é muito mais fácil”, afirma o professor da FEA-USP, Simão Davi Silber.
A Índia começa a colher frutos do processo de ajustes que ainda está em curso. O Brasil está nos primeiros passos: passada a escolha da nova equipe econômica e as primeiras medidas tomadas, o desafio é viabilizar politicamente a empreitada. Se o governo Dilma será capaz de garantir apoio para as medidas, é outra história.




As 10 maiores economias no mundo











Igor Clayton Cardoso: Pibinho do Brasil não é culpa da crise externa, dizem analistas

Enquanto o Brasil reduz sua presença, exportadores de matérias-primas sustentaram avanços, mesmo com o fim do ‘boom das commodities’





Igor Clayton Cardoso
Igor Clayton Cardoso

Não é de hoje que o governo da presidente Dilma Rousseff atribui a causas externas o motivo da desaceleração econômica brasileira. De fato, o impulso econômico da China diminuiu e o ‘boom das commodities’, visto nos primeiros anos da década, se encerrou. No entanto, mesmo com adversidades externas, outros exportadores de matérias-primas, como Austrália, África do Sul, Indonésia, Chile e Rússia, conseguiram sustentar taxas de crescimento bastantes superiores à brasileira em 2014. Mesmo guardadas as devidas proporções a respeito do tipo de commodity que cada país produz e o peso que cada uma delas tem na economia, analistas consultados pelo site de VEJA são unânimes: as razões para o enfraquecimento econômico doméstico não podem ser atribuídas a uma conjuntura internacional. É, afinal, culpa do próprio Brasil.
É verdade que os preços das commodities despencaram. Mas estão longe do patamar de 10 anos atrás. Ou seja, não se trata de uma situação caótica. O índice de commodities CRB da Reuters, que reúne uma cesta de 19 produtos, recuou mais de 40% desde maio de 2011, quando começou a ceder. É ruim, mas ainda superior ao verificado no período da crise financeira internacional, em 2008. No caso do Brasil, que vende principalmente grãos, o fim da ‘era de ouro’ das matérias-primas o atingiu em cheio: a cotação da tonelada da soja para exportação, por exemplo, está no menor nível desde 2010. Já o minério de ferro, outro produto importante da pauta de exportação brasileira, é vendido nos níveis mais baixos desde 2009 no mercado à vista chinês. Por falar em China, principal destino das exportações brasileiras em 2014, o gigante asiático deve crescer, no melhor cenário, 7% este ano – muito abaixo dos 10% que se tornaram constantes anos atrás.
Esses fatores, contudo, não isentam o Brasil da culpa. O país não fez a lição de casa, que é aumentar a capacidade produtiva e a competitividade. “Tivemos um esgotamento do modelo de expansão do consumo via estímulo da demanda. A combinação entre o fatigado mercado doméstico e a retração do comércio mundial inibiu a capacidade de crescimento do país”, explicou o professor de economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Antonio Corrêa de Lacerda. Ele acrescenta que o país possui uma economia bastante fechada, em que as exportações respondem por apenas 10% do Produto Interno Bruto (PIB), o que reforça a constatação de que as causas da desaceleração econômica brasileira são internas. O discurso é endossado por José Augusto de Castro, da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). “O desarranjo econômico atual é culpa nossa. Nos encantamos com os preços atrativos das commodities nos últimos anos e achamos que isso fosse durar para sempre”, afirmou.
Entre as desvantagens do Brasil em relação a outros exportadores de commodities estão o elevado custo logístico, a complexa burocracia e o sistema tributário, que desestimula a produção de itens de maior valor agregado. “Nós crescíamos antes independentemente do desempenho do mercado externo. Os preços das commodities ajudaram, mas não resolvaram problemas econômicos estruturais, como falta de competitividade, eficiência e a burocracia excessiva”, diz Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior e sócio da consultoria BarralMJorge. “No caso do Brasil, os fatores internos são sempre mais importantes. O mercado externo, extremamente demandante, ajudou a balança de pagamentos nos últimos anos, mas a atual crise enfrentada pelo país não é uma consequência de uma reversão deste cenário”, afirma.
Mesmo na área externa, alguns deslizes cometidos são de autoria do próprio país. Enquanto o Brasil perde participação em mercados estratégicos, como União Europeia, China, e Argentina, outros partem para a expansão. O caso da Argentina é gritante. Nos últimos três anos, as exportações brasileiras para o país vizinho acumulam queda superior a 35%. A queda se deve, em especial às medidas protecionistas adotadas, à desaceleração local e ao fato de o Brasil exportar para aquele país principalmente produtos manufaturados. “Uma vez que projetamos nova retração do PIB argentino neste ano e seu acesso ao mercado internacional de capitais continuará restrito, é razoável esperar que as relações comerciais entre o Brasil e a Argentina continuem desfavoráveis”, escreveu o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, em relatório enviado a investidores. Enquanto isso, a China ‘abocanha’ parte do vácuo deixado pelo Brasil, oferecendo linhas de crédito atrativas aos ‘hermanos’.
Em relação aos Estados Unidos, principal economia do mundo, apenas com Armando Monteiro, atual ministro do Desenvolvimento, é que se tem buscado uma reaproximação – desde 2003 não havia uma missão chefiada pelo governo brasileiro ao país. Reflexo da falta de estratégia do Brasil na área externa foi o resultado negativo na balança comercial de 2014, com déficit (exportações menos importações) de 3,93 bilhões de dólares, o primeiro desde 2000. “Dos quinze maiores exportadores do mundo, treze exportam, sobretudo, produtos manufaturados. São países que fizeram reformas, para coexistir a venda de commodities com manufaturas. Já o Brasil não fez nada: reforma tributária, ampliação de investimentos em infraestrutura, dentre outras coisas. Somos eternamente cigarra – e não formiga”, comparou Castro, da AEB.
Os analistas não veem uma saída fácil nem instantânea para que o Brasil retome uma trajetória de crescimento. Isso proque as medidas que o país precisa implementar são estruturais e têm efeitos apenas no longo prazo. Com isso, este ano e o ano que vem ainda devem ser “problemáticos” no âmbito econômico. “A supresa que temos não é a crise em si, mas a dificuldade que o governo está tendo em geri-la. Dificuldades na articulação com o Congresso criam um clima de desconfiança entre os agentes do mercado, sem falar dos desdobramentos da Operação Lava Jato, que não ajudam em nada”, afirma François Santos, sócio do escritório brasileiro da A.T. Kearney.







Igor Clayton Cardoso: Economia brasileira escapa por pouco da retração ao subir 0,1% em 2014

Nova metodologia do IBGE ajudou para o que resultado não fosse pior; maior impacto negativo veio da indústria






Igor Clayton Cardoso
Igor Clayton Cardoso

A economia brasileira cresceu apenas 0,1% em 2014, em relação ao ano anterior, divulgou nesta sexta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2013, o crescimento foi de 2,7%, de acordo com dados revisados – antes apontava para avanço de 2,5%.
O resultado verificado no ano passado foi salvo, segundo economistas, pela revisão da metodologia de cálculo do IBGE. Em valores correntes, o Produto Interno Bruto (PIB) atingiu 5,52 trilhões de reais no ano passado. Já o PIB per capita ficou em 27.229 reais, queda de 0,7% em volume em relação a 2013.
O PIB é analisado pelos economistas sob duas óticas distintas: a da oferta, representada pelo setor produtivo (agropecuária, indústria e serviços) e a da demanda, representada por investimentos, consumo das famílias, gastos do governo e balança comercial (exportações menos importações).
Do lado da oferta, o destaque do desempenho pífio no ano foi para a queda de 1,2% da indústria. Já a agricultura cresceu 0,4% e o setor de serviços mostrou variação positiva de 0,7%. Sob a ótica da demanda, os investimentos tiveram baixa de 4,4% e o consumo das famílias subiu 0,9%. Já os gastos do governo aumentaram 1,3% em relação a 2013, lembrando que 2014 foi ano eleitoral.
Segundo o IBGE divulgou nesta manhã, a taxa de investimento no ano de 2014 foi de 19,7% do PIB, abaixo do observado em 2013 (20,5%). A taxa de poupança foi de 15,8% em 2014, ante 17,0% em 2013.
Na análise do setor externo, as exportações recuaram 1,1% e as importações de bens e serviços caíram 1%. Entre as exportações, os destaques negativos foram a indústria automotiva (incluindo caminhões e ônibus) e embarcações e estruturas flutuantes. Por outro lado, o Brasil vendeu mais ao exterior produtos siderúrgicos, celulose e produtos de madeira. No caso das importações, o país comprou mais máquinas e equipamentos e indústria automotiva (incluindo peças e acessórios).
Lava Jato - A paradeira verificada em 2014 ainda não havia captado os efeitos da Operação Lava Jato no setor da construção civil e ainda tinha o atenuante da Copa do Mundo, que movimentou bilhões de reais em serviços. Em 2015, não só a Lava Jato deve impactar em cheio o setor de infraestrutura, como o país também padecerá dos efeitos do ajuste fiscal – que é necessário, porém mais doloroso quando feito em períodos de recessão.





LEIA MAIS:Em semana de PIB, mercado aposta em queda de 0,83% para economia em 2015

Quarto trimestre - Considerando apenas o quarto trimestre em relação ao terceiro, houve aumento de 0,3% no PIB, salvo pela agropecuária que cresceu 1,8%. O setor de serviços ajudou também ao registrar alta de 0,3%, mas a indústria recuou 0,1%. Contudo, se comparado ao quarto trimestre de 2013, na série sem ajustes sazonais, a economia brasileira retrocedeu 0,2%. O IBGE revisou ainda o PIB do terceiro trimestre, que passou de avanço de 0,1% para alta de 0,2% ante abril a junho.
Na avaliação de economistas consultados pelo site de VEJA, o importante não é o número do PIB em si, mas a tendência de queda para os próximos trimestres – algo que o próprio ministro da Fazenda Joaquim Levy admitiu recentemente. “A herança de 2014 será muito ruim. O governo gastou muito, perdeu receitas importantes e levou o país a um déficit público recorde de 6,7% do PIB. Essa herança vai deixar a situação para o Brasil em 2015 ainda mais difícil. O cenário é de contração do crédito, risco de racionamentos de água e energia, e ainda inflação alta”, diz Francisco Assunção e Silva, coordenador da Comissão de Política Econômica do Conselho Federal de Economia (Cofecon).
Já o professor de Economia da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), Tharcisio Souza Santos, argumenta que, não bastassem os números ruins, há ainda a questão da mudança de cálculo do PIB, que provoca questionamentos entre estudiosos. “O pior nem é o ajuste, mas é essa revisão da metodologia que não sabemos direito como será e até que ponto é necessária. Perdemos um pouco da previsibilidade do que virá com o número”, afirma.
Metodologia - Economistas já esperavam que as mudanças no cálculo do PIB, promovidas pelo instituto, aumentariam o tamanho da economia do país e afastariam o risco de recessão em 2014. As contas nacionais agora incorporam gastos bélicos e com pesquisa e desenvolvimento ao investimento e calculam melhor dados da construção civil e saúde.
As alterações estão sendo trabalhadas pelo IBGE desde 2012 e promovem uma mudança no ano-base da série histórica. Atualmente, a base é considerada o ano 2000, e com a atualização passará ao ano de 2010. O novo sistema também incorpora dados do Censo Agropecuário de 2006 e da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008-2009, além de se adaptar às recomendações internacionais. Dessa forma, o PIB brasileiro se tornará mais comparável com o de outros países.






Igor Clayton Cardoso: O sofisma da ‘nova moralidade’

Editorial do Estadão

“Quando se combate a corrupção com firmeza, um efeito imediato é tirar do desconhecimento atos de corrupção que até então eram praticados. A impressão que fica é a de que todas essas ações aumentaram a corrupção, quando na verdade são medidas e instrumentos adotados para combatê-la.” Esse primor de sofisma é obra do titular da Secretaria Nacional de Justiça, Beto Vasconcelos, que foi o responsável pela montagem do balaio de propostas requentadas que compuseram o pacote de medidas de combate à corrupção anunciado na semana passada pela presidente Dilma Rousseff com o objetivo de construir “uma nova moralidade pública”.
É muito bom que a presidente da República se revele, finalmente, disposta a colocar a tranca depois de seu partido ter trabalhado com afinco por mais de uma década para arrombar a porta da moralidade pública. Mas seria melhor ainda se ela não instruísse seus porta-vozes a fazer pouco do discernimento dos brasileiros com a capciosa versão de que mais importante do que a corrupção, que nem seria tão grande assim, é a determinação do governo de combatê-la.




Igor Clayton Cardoso
Igor Clayton Cardoso

Ora, não se combate o que não existe. E o que existe é um escandaloso esquema de corrupção que, pelo menos ao longo de uma década, sangrou a maior estatal brasileira com o óbvio apoio dos governos petistas, já que se tratava de arrecadar recursos para o plano de se perpetuar no poder. E com a agravante de que esse foi o segundo grande assalto ao dinheiro do povo com o mesmo objetivo. O primeiro, o malfadado mensalão, botou na cadeia a quadrilha de dirigentes petistas levados a julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF). E isso sob protestos do PT, para quem seus líderes estavam apenas cumprindo uma missão patriótica.
Agora, Dilma pretende se vangloriar do fato de os governos petistas terem, como reafirmou Beto Vasconcelos, reconhecido a autonomia do Ministério Público Federal, fortalecido a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União, além de terem apoiado a aprovação pelo Congresso Nacional da Lei da Ficha Limpa, o aperfeiçoamento das leis sobre lavagem de dinheiro e organizações criminosas, bem como a Lei Anticorrupção. É verdade. Todas essas medidas atenderam à exigência de cumprir a promessa de moralizar a vida pública que fora bandeira do PT nos mais de 20 anos em que fez oposição “a tudo o que está aí”. Mas, ao mesmo tempo que publicamente adotava com alarde medidas moralizadoras, nas sombras, membros proeminentes dos governos petistas cometiam e reincidiam no assalto aos cofres públicos.
Para Dilma e seus companheiros esses fatos não têm grande importância, como tampouco importam as manifestações públicas contra a corrupção no governo e a favor do afastamento da presidente. Protestos de centenas de milhares de brasileiros nas ruas, como ocorreu em 15 de março – como explica Beto Vasconcelos –, são apenas o preço que a presidente paga pela coragem de permitir o combate rigoroso à corrupção. Ora, não figura entre os poderes da presidente da República permitir ou deixar de permitir que a Polícia Federal e o Ministério Público cumpram seus deveres.
Enquanto Dilma paga resignadamente seu tributo à moralidade pública, mais uma leva de dirigentes do partido enfrenta os tribunais, entre eles o tesoureiro nacional da legenda. A situação de Vaccari Neto é sintomática do impasse em que a Operação Lava Jato colocou o PT. O tesoureiro exerce uma função essencial para o funcionamento do partido, porque dele depende a arrecadação de recursos junto a doadores. Isso significa que passaram por ele todas as doações das empreiteiras envolvidas na Lava Jato. Apesar de declaradas legalmente à Justiça eleitoral ao entrar nos cofres do partido, essas doações têm origem ilegal, no esquema de propinas, de acordo com as investigações da força-tarefa e das delações premiadas de diretores e funcionários da Petrobrás.
Desde que o nome do tesoureiro apareceu nas investigações, a direção do PT tem repudiado as acusações e garantido que Vaccari só será afastado de suas funções e da legenda se for condenado pela Justiça. Embora muitas lideranças petistas considerem o afastamento preventivo do tesoureiro uma medida de cautela para preservar a imagem do PT, Vaccari se mantém irredutível, forçando o partido a apoiá-lo. Deve ter bons argumentos.
Texto extraído do Blog do Augusto Nunes

Igor Clayton Cardoso: Texto de Merval Pereira

Merval Pereira: ‘Governo sem rumo’

Publicado no Globo
MERVAL PEREIRA




Igor Clayton Cardoso
Igor Clayton Cardoso

A tensão política só faz aumentar em Brasília, e reflete a disputa intestina dentro de um governo sem rumo e sem liderança. A coalizão governista, artificialmente montada, se desmonta a olhos vistos sem que exista alguém que possa dar um destino, um caminho, para a rearrumação da casa.
Há exemplos de desencontros por todos os lados, e necessariamente a presidente Dilma está no centro de todos eles, em vez de guia tornando-se descaminho. Pode ser que eu tenha perdido alguma coisa, mas há alguma explicação lógica para que uma decisão tomada em novembro do ano passado possa ser desautorizada quatro meses depois pelo mesmo governo?
A repactuação da dívida dos Estados e municípios foi feita durante a campanha eleitoral, e seria até normal que a presidente, para agradar cabos eleitorais importantes, tivesse prometido o que não poderia fazer. Eleita, porém, poderia simplesmente não sancionar o projeto, afirmando que os tempos eram outros. Seria mais um estelionato eleitoral, mas teria nexo.
Do jeito que foi feito, parece que só quando o novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, chegou ao governo é que os desmandos foram identificados. Nesse caso, a situação é mais grave do que parece. Se for verdade, Dilma estava convencida, até a chegada de Levy, de que a renegociação da dívida era perfeitamente possível, e que outras medidas que hoje o seu novo governo renega estavam certas.
Quando ela diz que fez tudo certo no primeiro mandato, não estaria mentindo, mas reafirmando convicções. Nesse caso, a continuação no cargo é um perigo potencial de repetição dos mesmos erros caso um dia a economia se recupere ainda em sua gestão.
E quando o ministro Joaquim Levy classificou de “brincadeira” a desoneração da folha de pagamentos de várias empresas, não estava fazendo uma metáfora, estava apenas revelando a qualidade das decisões econômicas tomadas pela equipe de Mantega e sua nova matriz econômica.
O que dizer do plano maquiavélico de usar mais uma vez o hoje ministro Kassab para criar um novo partido, o PL, que se fundiria ao PSD e assim permitiria que muitos deputados e senadores hoje no PMDB o deixassem, enfraquecendo-o na coalizão governista?
Como não são bobos, os líderes do partido viram longe a situação e começaram uma rebelião interna que não tem hora de acabar. Ainda mais quando detectam que a própria presidente Dilma participou diretamente da manobra, não sancionando a lei aprovada pelo Congresso que a impediria.
O tiro deve sair pela culatra, primeiro por que o PL acabou se inscrevendo no Tribunal Superior Eleitoral sem o número mínimo de assinaturas, prometendo remetê-las depois. Mas a impugnação da nova legenda, que parece provável, não apaga o fato de que o Palácio do Planalto continua tentando neutralizar a força do PMDB, que já sentiu para que lado o vento sopra e começa a saltar do barco, não como quem foge acovardado, mas como quem enfrenta os desmandos da capitã, afinal identificada como incapaz de levar o barco nessa tempestade que enfrenta.
A necessidade identificada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, de haver um plano econômico abrangente que possa dar um rumo à economia, e não apenas cortes de gastos que atingem os cidadãos mais desprotegidos e as empresas que geram empregos, é correta e vai ao encontro do que tem cobrado o presidente do PSDB, senador Aécio Neves.
Está também correta a exigência do PMDB de que o governo reduza para 20 o número de ministérios e corte os cargos em comissão de provimento direto, que são cerca de 25 mil DAS. Só que é uma ação populista, pois foi o mesmo Renan Calheiros, juntamente com Eduardo Cunha, que aceitaram que os partidos políticos mais que dobrassem a verba do Fundo Partidário, e aumentassem as verbas dos parlamentares.
É como diz o ditado: em casa em que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão. No país desgovernado, faltam pão e quem dê o rumo.
Texto extraído do Blog do Augusto Nunes.