segunda-feira, 13 de abril de 2015





Igor Clayton Cardoso: Delação premiada estende investigações a mais executivos da Petrobras e Camargo Corrêa


Dois novos diretores da estatal e mais quatro integrantes da construtora não estavam na lista da Polícia Federal até então





Dalton dos Santos Avancini, presidente da construtora Camargo Corrêa, em São Paulo (SP)
Dalton dos Santos Avancini, ex-presidente da construtora, é um dos delatores(Claudio Belli/Folhapress)
A delação premiada assinada por integrantes da Diretoria da Camargo Corrêa em fevereiro já começa a levar a investigação da operação Lava Jato a novos caminhos. Eduardo Hermelino Leite, vice-presidente da construtora e Dalton dos Santos Avancini, presidente, ambos afastados hoje do cargo, revelaram mais dois nomes de diretores da Petrobras que ainda não figuravam nos autos da Lava Jato. Segundo o jornal Valor Econômico, quatro outros executivos da Camargo Corrêa também entraram na mira das investigações.
De acordo com as informações dos dois delatores, os novos diretores da estatal citados teriam praticado o mesmo esquema de pagamento de valores indevidos a agentes públicos. Acredita-se que, com as novas informações, as investigações extrapolem as diretorias de Abastecimento, Serviços e Internacional, comandadas por Paulo Roberto Costa, Renato Duque e Nesto Cerveró. Assim, poderiam se estender para BR Distribuidora, Transpetro e Comunicação.




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O jornal já havia noticiado que Dalton Avancini afirmou às autoridades que os serviços de consultoria prestados pela empresa do ex-ministro José Dirceu não existiam.
Procurada, a Camargo Corrêa diz que desconhece os dados dos delatores e que “não participou e nem teve acesso aos referidos acordos de colaboração, desconhecendo seus termos e também o teor dos depoimentos”.




sexta-feira, 10 de abril de 2015



Igor Clayton Cardoso: Sem noção do perigo: a política do escárnio


Esta coluna tinha preparado para hoje uma história sobre empreendedorismo e sucesso, destas que inspiram a gente a acreditar no Brasil.
Mas isto vai ter que esperar porque, nas últimas 48 horas, o lado negro da força avançou. Aquele lado que toma carona no seu esforço pessoal, que mina a sua fé no País e faz um ‘gato’ pra roubar o seu futuro. croquis_oscar_4
Ontem, a Mesa Diretora do Senado arquivou o pedido de criação de uma CPI para investigar irregularidades nos fundos de pensão da Petrobrás, Correios, Banco do Brasil e Caixa. Se você é funcionário de uma destas estatais, ou se é apenas um cidadão com um bom estoque de decência, a panela está te esperando lá na cozinha.
Há muito tempo não acredito na capacidade de assepsia das CPIs, que frequentemente geram mais calor do que luz. Sou mais fã da Polícia Federal e do Ministério Público, até porque eles realmente colocam os caras culpados na cadeia, enquanto os deputados e senadores conseguem, no máximo, constrangê-los.
No dia anterior, um grupo de senadores já havia retirado suas assinaturas e enfiado numa cova a CPI do BNDES, onde, reza a lenda, o escândalo a ser descoberto seria ainda maior que o petrolão.
Para uma CPI ser instalada, são necessárias 27 assinaturas, mas, nos dias de hoje, você não encontra 27 homens livres no Senado.
É um sinal dos tempos, e o resultado concreto da entrega da articulação política para o PMDB, aquele partido que pessoas razoáveis dizem ser ‘melhor’ do que o PT, ou com quem ‘dá pra conversar’. (A intolerância a tipos de odores é um tema pessoal, então, por favor, não entremos no mérito.)
Para levar o clima de escárnio à indecentésima potência, ontem à noite o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa mudou o conteúdo de sua delação premiada: na nova versão, que coincide com a das empreiteiras, ele diz que as obras da Petrobras não eram superfaturadas, e que os valores pagos aos partidos eram “retirados da margem de lucro das empresas”. E emenda: “Não se pode dizer que houve sobrepreço.”
Respire fundo.
O PMDB brinca com fogo, e Costa, com gasolina. Esses proverbiais ‘tapas na cara da sociedade’ vão inflamar ainda mais o País, e — se as pessoas ainda lêem jornal (ou pelo menos o Facebook) — os acintes dos últimos dois dias podem levar mais gente para a rua no domingo.
Esta é uma coluna de mercados, mas a economia não existe no vácuo.
Este Brasil que está aí não é para comprar. É para vender.
Com a economia em contração e o pessimismo reinante, o que salva no Brasil de hoje são suas instituições democráticas: o trabalho da polícia, o rigor do Ministério Público, e a imprensa que insiste em ser livre, para ficar em algumas.
Pequenas ações individuais como as das últimas 48 horas zombam da população e achincalham estas instituições.
Quando milhões de brasileiros foram às ruas espontaneamente em 2013, os políticos calçaram as sandálias da humildade — por uma semana ou um mês. Disseram ter ouvido a voz das ruas e falaram em reformas. Fizeram o clássico barulho de quem mexe em folhas de papel para fingir que está trabalhando.
A única coisa que não fizeram foi mudar de atitude. Não entenderam que o País atingiu um ponto de inflexão, a partir do qual a sociedade demanda que se limpe toda a sujeira, que se investigue cada acusação e que, se necessário, se comece tudo do zero.
Quando o povo encher a rua de novo e gritar contra todos os políticos (e não só os de um partido), e quando os extremistas apoveitarem o caldo de cultura para vender o seu crack antidemocrático, aí, talvez, a ficha caia.
Por Geraldo Samor









Igor Clayton Cardoso: Delator muda a versão e agora diz que não houve superfaturamento nas obras da Petrobras. E agora?










Igor Clayton Cardoso
Igor Clayton Cardoso

Xiii… E agora, hein? Reportagem na Folha desta sexta informa que Paulo Roberto Costa mudou a versão que apresentou em seu acordo de delação premiada e agora nega que as obras da Petrobras tenham sido superfaturadas. A novidade está na petição apresentada à Justiça nesta quinta pelo advogado João Mestieri, segundo quem se está apenas corrigindo um equívoco.
Calma lá! Em depoimento do dia 2 de setembro, Costa foi taxativo: acusou as empresas de impor um sobrepreço às obras da ordem de 3% para convertê-los em propina. Costa nega também que ele e o doleiro Alberto Youssef recebessem uma lista com as obras e as empresas que as tocariam. “Isso nunca aconteceu”, afirma Mestieri.
O advogado tenta jogar tudo nas costas de um mal-entendido. Segundo ele, seu cliente sempre quis dizer que, se uma empreiteira cobrava por uma obra 15% acima do preço básico, ela podia repassar ao esquema 3%, baixando, então, seu lucro para 12%. Como é que a coisa vai ficar? Vamos ver. A delação de Costa já foi homologada pelo STF.
Vejam só: essa versão, se verdadeira, desmonta a tese do cartel de empreiteiras, na qual se assenta a apuração do Ministério Público. Eu não sei se ele está mentindo antes ou agora. Se a coisa se deu como ele diz, ganha força a versão de que havia um esquema mais parecido com achaque.
O que acontece com um acordo de delação premiada caso se constate que o beneficiário mentiu? Ele perde o tal benefício. Depois de tanto crime admitido, Costa deve ficar uns dois ou três anos em regime semiaberto e pronto! Será um homem livre.
O que teria levado o ex-diretor de Abastecimento a mudar a versão? Está aberta a temporada de hipóteses e suposições conspiratórias. Como a nova narrativa é obviamente mais favorável às empreiteiras, não faltará quem veja aí o dedo das ditas-cujas. Bem, meus caros, vocês sabem muito bem que sempre contestei a tese do cartel por uma razão técnica: quando se tem uma única fonte contratadora e pagadora, falar em cartelização é forçar demais o terreno dos conceitos, não é? E ISSO NÃO QUER DIZER — NEM NUNCA QUIS DIZER — QUE AS EMPREITEIRAS NÃO POSSAM TER COMETIDO OUTROS CRIMES. E os cometeram. Afinal, a dinheirama devolvida por Costa e Pedro Barusco, por exemplo, saiu de algum lugar: e a gente sabe de onde.
De novo: não sei qual Paulo Roberto está mentindo, se o de agora ou o de antes. Considerando a sua trajetória e a sua desenvoltura no mundo do crime, é possível que nenhum dos dois diga a verdade inteira. Essa nova versão, no entanto, me parece mais compatível com a ordem dos fatos.
“Ah, mas então as empreiteiras não embutiam o custo-propina na obra?” É muito provável que sim, mas não, creio, numa espécie de grande concertação. O mais provável é que, na estrutura que unia achaque, compadrio e colaboração mutuamente criminosa, cada uma delas fizesse com os operadores seus próprios e respectivos negócios.
A tese central do Ministério Público tem como seu principal pilar a formação de cartel, o que está sendo negado por um dos dois principais delatores. O outro, Alberto Youssef, já o havia feito na prática. Na defesa que apresentou de seu cliente no dia 28 de janeiro, o advogado Antonio Figueiredo Basto escreveu que “agentes políticos das mais variadas cataduras racionalizaram os delitos para permanecer no poder, pois sabiam que, enquanto triunfassem, podiam permitir e realizar qualquer ilicitude, na certeza de que a opinião pública os absolveria nas urnas”. Em suma: Youssef foi um serviçal de um projeto de poder. Não era o líder de nada. O texto prossegue: “Não é preciso grandes malabarismos intelectuais para reconhecer que o domínio da organização criminosa estava nas mãos de agentes políticos que não se contentavam em obter riqueza material, ambicionavam poder ilimitado com total desprezo pela ordem legal e democrática, ao ponto de o dinheiro subtraído dos cofres da Petrobras ter sido usado para financiar campanhas políticas no Legislativo e Executivo”.
Para quem ainda não entendeu: quando Costa, na prática, nega a formação de cartel, sai reforçada a tese de que a ladroagem que operou na Petrobras tinha como epicentro a questão política, que era a fonte de onde emanava, então, a demanda pela esbórnia. Assim, agora, as versões de Costa e de Youssef são mais compatíveis.
Estamos diante de um caso interessante: ou o MP renuncia à tese do cartel e mantém a delação premiada de Costa, ou conserva a sua versão da cartelização, mas suspende o benefício concedido ao ex-diretor da Petrobras. Ele não pode ser beneficiado negando aquela que o MP considera ser a essência do crime: o cartel. Ou estaria mentindo.
Texto publicado originalmente às 4h42
Por Reinaldo Azevedo







Igor Clayton Cardoso: Propina saía da margem de lucro das empresas, diz Costa


Em defesa apresentada à Justiça Federal, ex-diretor da Petrobras afirma que não houve sobrepreço em contratos da estatal: ‘Valores eram retirados da margem das empreiteiras’




Igor Clayton Cardoso
Igor Clayton Cardoso

Em defesa preliminar apresentada nesta quinta-feira à Justiça Federal, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, um dos principais delatores do petrolão, reafirmou o pagamento de propina para o PT e o PP, mas disse que os repasses saíam da margem de lucro das empreiteiras. Em um dos depoimentos de sua delação premiada, em setembro de 2014, Costa havia dito que o valor da propina vinha de um “sobrepreço de cerca de 3% em média” nos contratos das empresas com a Petrobras.
Costa responde por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro na Operação Lava Jato e está em prisão domiciliar desde setembro. A defesa do ex-diretor da estatal pede o perdão judicial.



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Na petição apresentada à Justiça nesta quinta, a defesa de Costa afirma que, em obras como Abreu e Lima e o Complexo Petroquímico do Rio, as empreiteiras “repassavam em média até 3% (1% para o PP e 2% para o PT). Estes valores eram retirados da margem das empresas.” Em seguida, o documento frisa que os contratos não foram superfaturados: “Não se pode dizer que houve sobrepreço”. No mesmo trecho, Costa exemplifica como funcionaria o repasse. “Se uma empresa oferecia uma proposta de 15% acima do orçamento básico e repassava os 3% ela ficava com o lucro de 12%, no caso de não repasse ficaria com um lucro de 15%.”
Costa teve sua delação premiada homologada pelo Supremo Tribunal Federal em setembro do ano passado. Caso a Justiça constate que o ex-diretor da Petrobras mentiu, ele pode perder os benefícios conquistados com sua colaboração. Em declaração para o jornal Folha de S. Paulo, o advogado do delator negou que Costa tenha mudado sua versão dos fatos. “Não é uma mudança de delação”, afirmou João Mestieri. Para o defensor, o ex-diretor da estatal apenas esclareceu alguns pontos do depoimento. “Isso não foi bem explicado antes.”








Igor Clayton Cardoso: Temer já sofre primeira derrota, e Câmara aprova por larga maioria emenda que abre a caixa-preta do BNDES






Igor Clayton Cardoso
Igor Clayton Cardoso

Que os peemedebistas não recuem e que o evento sirva de cartão de boas-vindas ao vice-presidente Michel Temer (PMDB) na sua função de coordenação política. A que me refiro? Por 298 votos a 95, o plenário da Câmara aprovou uma emenda à Medida Provisória 661, de autoria do Alfredo Kaefer (PSDB-PR), que proíbe o BNDES e suas subsidiárias de se recusar a fornecer informações sobre operações de empréstimo com base no sigilo contratual — e isso inclui obras no exterior.
A emenda à MP é aprovada um dia depois de seis senadores terem retirado suas assinaturas do requerimento de instalação de uma CPI do BNDES. O pedido contava com 28 signatários — são necessários pelo menos 27. Os seis parlamentares pertencem à base do governo: Fernando Ribeiro (PMDB-PA), suplente que, desde o início do ano e até anteontem ocupava a vaga do titular Jader Barbalho, Rose de Freitas (PMDB-ES), Otto Alencar (PSD-BA), Omar Aziz (PSD-AM), Zezé Perrella (PDT-MG) e Ivo Cassol (PP-RO).
A emenda será agora apreciada pelo Senado. Se aprovada, Dilma ainda pode vetá-la. Mas, como se sabe, um veto pode ser derrubado. Vamos ver. Os empréstimos do BNDES, especialmente para ditaduras como Cuba, Venezuela e Angola, são uma verdadeira caixa-preta. Em nome do tal sigilo, o banco se comporta como uma autocracia. Instala-se o pânico sempre que surge a possibilidade de que se venha a conhecer os termos dessas operações, tanto a clientes brasileiros como a estrangeiros. Há coisa de um mês, Luciano Coutinho, presidente do banco, tentava convencer senadores a não assinar o requerimento da CPI.
A emenda aprovada prevê que “não poderá ser alegado sigilo ou definidas como secretas as operações de apoio financeiro do BNDES, ou de suas subsidiárias, qualquer que seja o beneficiário, direta ou indiretamente, incluindo nações estrangeiras”. O PT e o governo tentaram derrubá-la a todo custo, mas não foram bem-sucedidos. A derrota acachapante se deu na estreia de Temer como coordenador. E, como se nota, o PMDB não o acompanhou.
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, já havia dito que a indicação de Temer não mudaria a relação do partido com o governo na Casa. Alguns líderes da legenda acham que a presidente Dilma tenta constrangê-los a votar com o governo, sob pena de Temer, umas das estrelas da agremiação, se desmoralizar.
A aprovação dessa emenda na Câmara pode ser um sinal de que o partido não se sente obrigado a seguir a orientação oficial.
Por Reinaldo Azevedo





quinta-feira, 9 de abril de 2015




Igor Clayton Cardoso: Desemprego sobe para 7,4% no trimestre até fevereiro, segundo a Pnad Contínua


Mais abrangente, indicador deve substituir a Pesquisa Mensal de Emprego, que apontou em janeiro 5,9% de desocupação no país




Igor Clayton Cardoso
Igor Clayton Cardoso
Cerca de 950 mil pessoas ficaram sem emprego entre o intervalo de setembro-novembro e dezembro-fevereiro(Reinaldo Canato/VEJA)
O indicador de desocupação medido pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua subiu de 6,5% no trimestre encerrado em novembro de 2014 para 7,4% entre dezembro do ano passado e fevereiro deste ano. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o desemprego também está maior este ano do que no mesmo período do ano passado, quando registrou no trimestre até fevereiro de 2014 uma taxa de 6,8%.
A Pnad Contínua utiliza uma metodologia de cálculo e abrangência diferente da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), cuja taxa de desocupação bateu 5,9% em fevereiro. A ideia é que a Pnad substitua a PME por melhor interpretar o ambiente econômico. A PME leva em consideração dados apurados apenas em seis regiões metropolitanas do país.
Desde o mês passado, a Pnad Contínua está sendo divulgada mensalmente. O cálculo da Pnad é trimestral, ou seja, a pesquisa utiliza informações dos últimos três meses consecutivos.
“Dessa forma, a divulgação dos indicadores de janeiro de 2015 foram calculadas a partir das informações coletadas em novembro/2014, dezembro/2014 e janeiro/2015; os de fevereiro a partir dos dados de dezembro/2014, janeiro/2015 e fevereiro/2015; em março serão consideradas as informações de janeiro/2015, fevereiro/2015 e março/2015, coincidindo, neste caso, com o trimestre convencional da Pnad Contínua trimestral; e assim sucessivamente”, explicou o instituto.



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Ainda segundo a Pnad Contínua, o salário médio é de 1.817 reais, diferente do mostrado pela PME de fevereiro (2.163,20 reais) e acima da pesquisa Pnad de fevereiro do ano anterior (1.798,00 reais). No trimestre encerrado em novembro de 2014, o rendimento médio do trabalhador estava em 1.793,00 pela nova pesquisa.
Desocupação – A Pnad mostrou ainda que, no trimestre encerrado em fevereiro, houve um aumento do número de pessoas sem trabalho, passando de 6,5 milhões no trimestre de setembro a novembro para 7,4 milhões de dezembro a fevereiro. Entre os dois períodos, 950.000 pessoas ficaram desocupadas, alta de 14,7%. Já a população ocupada foi estimada em 92,3 milhões, menor do que o visto no trimestre encerrado em novembro (92,7 milhões).






Igor Clayton Cardoso: Fitch reduz perspectiva do Brasil de estável para negativa


Apesar disso, agência de classificação de risco manteve a classificação do rating brasileiro em “BBB”, a penúltima nota de grau de investimento




Igor Clayton Cardoso
Igor Clayton Cardoso

A agência de classificação de risco Fitch revisou nesta quinta-feira a perspectiva do rating do Brasil para negativa, ante estável, citando a contínua fraqueza econômica no país, maior desequilíbrio macroeconômico e deterioração fiscal. A Fitch manteve a classificação do rating brasileiro em “BBB”, a penúltima nota de grau de investimento, mas citou como riscos a dificuldade em consolidar o ajuste fiscal, o crescimento fraco contínuo, a confiança reduzida no governo e o crescente endividamento do governo.
“Embora o governo tenha iniciado um processo de ajuste macroeconômico para melhorar a credibilidade política e a confiança, persistem riscos relacionados à sua implementação efetiva e durabilidade, especialmente no contexto de um ambiente econômico e político desafiador”, avaliou a Fitch.
A mudança da perspectiva do Brasil de neutra para negativa sinaliza que de doze a dezoito meses haverá uma decisão sobre a nota soberana do país, disse Shelly Shetty, diretora de rating soberano para a América Latina da Fitch, em entrevista àAgência Estado. “Alterações de rating podem acontecer antes, e alguns casos já ocorreram, mas não é comum”, ponderou.



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Para a Fitch, o processo de ajuste, se implementado com sucesso, pode levar a uma retomada da confiança e crescimento em 2016, mas este último deve ficar abaixo do de outros países com o mesmo rating.
Segundo a agência, a economia brasileira deverá ter contração de 1% neste ano, depois de crescer apenas 0,1% em 2014. Conforme a Fitch, a média de crescimento em três anos do Brasil de apenas 1,5%, em comparação com a média de 3,2% dos países com rating BBB, destaca a natureza estrutural do fraco desempenho.
“As perspectivas de crescimento no médio prazo dependem amplamente da capacidade do governo de reverter a queda na confiança e melhorar a competitividade da economia progredindo nas reformas microeconômicas”, completou a agência.
Fiscal – As contas fiscais do Brasil se deterioraram acentuadamente em relação ao ano passado, afirmou a Fitch, tendo em vista que o déficit orçamentário atingiu 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014. A agência destaca que o país registrou o primeiro déficit primário em vários anos. O peso da dívida pública aumentou para 58,9% do PIB em 2014, em comparação com a média de 52,8% durante o período de 2010 a 2013. “O fardo da dívida é cada vez mais divergente da média dos pares BBB, de 40% do PIB”, afirmou.






Igor Clayton Cardoso: Após invasão de ratos, Vaccari fala à CPI e admite que esteve no escritório de Youssef


Acusado de intermediar propinas para o partido, tesoureiro do PT depõe como investigado no Congresso Nacional. Ele abriu depoimento com palestra




Igor Clayton Cardoso
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O tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, depõe nesta quinta-feira à CPI da Petrobras com direito a uma “aula” aos deputados sobre arrecadação de dinheiro para campanhas e partidos, como se os parlamentares não conhecessem os trâmites. Depois da explanação, quando começou a responder às perguntas do colegiado, Vaccari garantiu que todas as doações recebidas pelo PT desde 2010, quando assumiu o cargo, foram legais. Um grande tumulto precedeu o depoimento do petista: parlamentares bateram boca assim que o tesoureiro chegou ao colegiado e, pouco depois, ratos foram soltos na CPI.
Indagado pelo deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), Vaccari acabou admitindo que esteve no escritório do doleiro Alberto Youssef – embora tenha dito que não se reuniu com o criminoso. “Eu estive no escritório dele, mas ele não estava presente”. O tesoureiro ponderou que esteve só uma vez na empresa do doleiro – mas ele não estava no local. “Foi uma visita que entre chegar, subir e descer demorou quatro minutos”. A sequência de perguntas de Sampaio foi a mais tensa, com várias interrupções e protestos de petistas contra os termos usados pelo tucano contra o tesoureiro. Carlos Sampaio encerrou sua participação com um último golpe: “O senhor tem tudo para ser preso e o PT, extinto”, disse ele. Antes disso, Vaccari havia afirmado que nem ele nem o PT possuem conta no exterior.
Ao longo do depoimento, Vaccari não conseguiu disfarçar o nervosismo. Com as mãos trêmulas e gaguejando, ele se enrolou ao tentar responder se foi beneficiado com dinheiro fraudulento oriundo das obras no Gasene, conforme o ex-gerente da estatal Pedro Barusco afirmou à CPI em março. O deputado Bruno Covas (PSDB-) foi direto na pergunta: “O senhor confirma ou nega o recebimento de propina no Gasene?”. Vaccari disse: “Conheci o Barusco quando ele já tinha se aposentado. Sou tesoureiro do PT desde 2010, então com certeza não participei”. O parlamentar tucano rebateu: “Então o senhor confirma ou nega?”. Vaccari novamente tergiversou, evitando dar uma resposta pontual: “Vou reafirmar que conheci o Barusco somente em 2010. As declarações que foram feitas nas delações premiadas não são verdadeiras”. A mesma pergunta foi feita pelo menos quatro vezes, mas o tesoureiro petista desconversou em todas.
Vaccari também foi evasivo ao ser questionado se estaria disposto a fazer uma acareação com Pedro Barusco. Após consultar o advogado, disse que não cabe a ele fazer essa determinação. “Desde o início do processo, sempre me coloquei à disposição das autoridades competentes para que fossem dados todos os esclarecimentos”, afirmou.






CPI que ouve o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, é interrompida por manifestante que soltou roedores durante a sessão
Servidor solta ratos na CPI e sessão é interrompida(Pedro Ladeira/Folhapress)
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Vaccari obteve nesta quarta-feira um habeas corpus que o desobrigou de assinar um termo se comprometendo a dizer apenas a verdade na CPI, como é exigido dos depoentes. Aparentando insegurança, disse que as contribuições feitas por empresas ao Partido dos Trabalhadores ocorriam via transferência bancária, escrituradas e registradas na Justiça Eleitoral. “Sempre que fiz visitas às empresas ou pessoas físicas que fizeram doação, essas doações foram feitas de forma voluntária dentro da capacidade e da proposta que cada doador queira fazer, sem nenhum outro compromisso”, disse ele.
O tesoureiro admitiu conhecer o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, apontado nas investigações como uma espécie de sócio do petista na divisão da propina. Mas negou ter tratado de qualquer assunto financeiro com ele. O tesoureiro fez o mesmo ao se referir a Pedro Barusco, ex-gerente da Diretoria de Serviços que admite ter dividido propina com Duque e Vaccari. O tesoureiro do PT disse que se encontrou “algumas vezes” com Barusco, que relata encontros frequentes com o petista para tratar da divisão do dinheiro.
A resposta foi parecida quando o relator da CPI, Luiz Sérgio, perguntou sobre o relacionamento de Vaccari com outros envolvidos no esquema, como os ex-diretores Nestor Cerveró e Paulo Roberto Costa, o ex-presidente José Sérgio Gabrielli e os empresários Augusto Mendonça, Gerson Almada, Eduardo Leite e Ricardo Pessoa, investigados na Lava Jato. O petista repetiu que, apesar de conhecer essas pessoas, nunca tratou de assuntos ilícitos com elas.
Em sua explanação inicial, que incluiu uma exposição de slides, Vaccari argumentou que as empresas investigadas na Operação Lava Jato doaram de forma semelhante para campanhas do PT, do PSDB e do PMDB. O petista tentou construir a insustentável tese de que as empresas citadas doaram para outros partidos e, portanto, todos estão no mesmo patamar ético. Em 2014, disse Vaccari, o PT obteve 25% de sua arrecadação por meio das empresas investigadas na Lava Jato. No PSDB, esse porcentual foi de 24%, e o PMDB obteve 21% da sua arrecadação das empresas que participaram do cartel. Inicialmente, o tesoureiro não fez menção aos depoimentos de executivos de empreiteiras delatores do petrolão, que o apontam como arrecadador de propina para o Partido dos Trabalhadores.
Acusações – João Vaccari Neto é réu no escândalo do petrolão pelos crimes de lavagem de dinheiro, corrupção e formação de quadrilha. De acordo com denúncia apresentada pelo Ministério Público e acatada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o tesoureiro do PT recebeu propinas na forma de doação eleitoral registradas.